A minha instrução
Durante dois anos tive como professora de Biologia uma vizinha, que me arruinou a vocação. Sim, a minha verdadeira vocação é taxonomista. Um grande talento para separar, agrupar e dar um nome pertinente às coisas justifica esta imodéstia. O problema é que a professora tinha uma vida familiar conturbada e discutia quase todas as noites, ora com o marido ora com um - ou mesmo com os dois - filhos. Pior, as discussões eram sempre à noite, o que perturbava o sono a mim e à minha irmã e, logo, enfurecia a minha mãe a pontos de bater na parede, barafustar da janela e outras manobras de intimidação. Às vezes, as discussões eram cómicas e nessas alturas a família (com excepção do meu pai, que além de ouvir mal, não se interessava por estas coisas) vinha encostar-se à parede a ouvir os insultos e vingava-se com ataques de riso que eram certamente audíveis do outro lado. Como á óbvio, eu era alvo dos olhares rancorosos da professora. Mandava-me sentar nas filas de trás, nunca me fazia perguntas e, apesar dos testes invariavelmente acima dos 90%, só cedia o 5 no último período. Nem me lembro se tinha jeito para ensinar, desconfio que sim, mas infelizmente não o suficiente para compensar o mau feitio. Uma perda para a Taxonomia.
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