Porque eu gosto mesmo de futebol

Não sei se explique primeiro a minha relação com A Coisa...
Pronto, rapidamente: o meu pai gosta, mas não liga muito, a minha irmã e a minha mãe ainda menos, mas tinha uns primos fanáticos que me arrastavam para ocupar a baliza nos jogos de rua, porque fazia conta certa na equipa do Sporting (é daí...) e fui objecto de uma lavagem ao cérebro que me faz ter como algumas das recordações mais fortes até aos 10 anos de idade o 7-1 (ou foi 6-0?) ao Benfica no campeonato, o falhanço do Veloso na final com o PSV (eram esses não eram?), o jogo com a Inglaterra no Mundial do México, o Maradona a jogar no Nápoles...

Enfim, sigo os jogos, deliro com os bons e adormeço nos maus. Há algumas coisas que me estragam este prazer:

1. O balanço do dia na RTP1, que daria tanto jeito se os resumos fossem maiores e a conversa mole mais curta (é que a conversa não é interessante, é mole mesmo; sugiro o seguinte alinhamento - introdução de 1 minuto + resumo de 15 + comentário de 5 + resumo de 15 + comentário de 5 + resumo de 15 + comentário de 5 + 4 minutos de notícias/comentários sobre a selecção de Portugal, perfazendo um total simpático de 65 minutos).
2. Deixar de ter todos os jogos em canal aberto.
3. A pressão sobre mas também os maus jogos de Ronaldo, em nome de tantos serviços ao bom futebol.
4. O nacionalismo bacoco à volta da nossa participação, porque não é verdadeiro, é fútil e pouco saudável.

E coisas que me agradam:

1. Reconhecer as cidades alemãs e revê-las a esta luz estranha, de tão colorida e surreal.
2. Angola e Croácia, coitadinhos.
3. Desconfiar (e anunciar) que vai ser um grande mundial para o Figo.
4. Juntar-me com os amigos nos jogos de Portugal (o próximo vai ser excepção, acho...).
5. Discutir a qualidade das equipas, a forma (e as formas) dos jogadores, as classificações dos grupos, etc etc... com o meu namorado.

Para acabar, duas histórias giras sobre futebol.

Contei uma vez ao Eusébio (num encontro casual, local público, pura sorte do destino ele estar sentado ao meu lado...) a história de como me tornei adepta do Sporting, ao que ele respondeu "eu sabia que uma miúda tão gira tinha de ter algum defeito". Esta era só para me gabar...

Um amigo meu esteve em França na semana passada e planeava ir até à Alemanha ver o Portugal-Irão, à conta de um outro amigo nosso lhe ter arranjado bilhetes à última hora (por sinal, o mesmo milagreiro a quem devo a segunda fase do Euro 2004 ao vivo). Enviados os ditos bilhetes por correio expresso, nunca chegaram a ser entregues na morada indicada e, depois de vários telefonemas injuriososos para os correios franceses e portugueses, ele acabou por ver o jogo ao meu lado, com a sua sagres na mão, os pés descalços em cima do sofá e aos gritos como se estivesse no estádio, a aturar com um sorriso nos lábios o gozo do resto do grupo enquanto imaginava um carteiro francês e esposa sentados nos seus lugares. A isto chama-se espírito desportivo!