Depois de amanhã vou votar. O voto sempre foi para mim um acto solene . Na casa dos meus pais discutia-se o sentido de voto encaloradamente a cada eleição e, durante o tempo em que não podia ainda votar, sentia-me triste por ser excluída apesar de ter opinião. Vinha sempre à baila a grandeza da conquista do voto e a alegria da recordação dos meus pais, já adultos, irem votar pela primeira vez. Muitas vezes (geralmente à volta da mesa e depois do jantar) concluíamos que os quatro teríamos quatro sentidos de voto diferentes e encarávamos o facto com um certo orgulho por esta demonstração de pluralismo.
A primeria baixa nesta militância foi uma abstenção da minha irmã, que as eleições europeias não conseguiram arrancar da cama com uma gripe. Aceitável.
Depois vieram os votos em branco da minha mãe só interrompidos por causas muito fortes, como afastar Cavaco Silva (muito próximo da encarnação do demónio na sua mente) do poder.
Em 2005, soube que ia estar do outro lado do Atlântico no dia das eleições autárquicas e, cheia de boas intenções, telefonei para a Comissão Nacional de Eleições a explicar a situação: bolsa de estudo, compromisso inadiável, bla bla bla, ao que me responderam que era impossível outra forma de voto que não a presencial naquele caso, encerrado a conversa com um lacónico "pois, parece que vai mesmo contar para as estatísticas da abstenção". Lindo, não é? Não me apanharam noutra: no ano seguinte, voei sozinha para o Senegal, um dia depois dos meus amigos, só para não faltar outra vez!
E este domingo voltaremos a não falhar a presença e, quase de certeza, vamos assinalar quadrados diferentes...
